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quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Entrevista de Riyoko Ikeda para o Gabinete de Igualdade de Gênero no Japão. Artigo traduzido.

 

Olá, queridos amigos de Lady Oscar, sejam Bem Vindos! 

 
 

  Hoje eu trouxe uma Entrevista especial de Riyoko Ikeda, autora de Rosa de Versalhes, concedida ao Gabinete de Igualdade de Gênero no Japão. Pois bem, já se passaram 50 anos, mas, Lady Oscar continua, passando uma imagem fortíssima associada e à igualdade de gênero. Nessa entrevista, Ikeda, fala sobre, questões de Gênero, e suas obras mais famosas, Rosa de Versalhes(ベルサイユのばら), Orpheus no Mado (オルフェウスの窓) e Claudine (クローディーヌ...!), além de comentar experiências pessoais na entrevista. Resolvi traduzir o texto, aviso que por se tratar de uma tradução pode conter erros, pois o texto é grande e foi uma tradução muito trabalhosa, então peço desculpas por possíveis erros da tradução. 
 

 

Entrevista com Riyoko Ikeda para o Gabinete de Igualdade de Gênero.

Sra. Tomoko Hayashi Diretora do Bureau de Igualdade de Gênero.
 

 

 Seção de Assuntos Gerais da Secretaria para Igualdade de Gêneros do Gabinete do Japão

O período em que escreveu A Rosa de Versalhes



Chefe de Secretaria Hayashi (
Tomoko Hayashi): Este ano (2022) completará 50 anos do início da serialização de A Rosa de Versalhes. Eu, desde minha época de menina, gosto muito tanto de A Rosa de Versalhes, quanto de A Janela de Orfeu.(nota: daqui em diante, ela passara chamar a série de Ikeda de Berubara). Perguntando às jovens trabalhadoras do gabinete de Igualdade de Gêneros, e todas elas disseram conhecer Berubara e assim eu pude perceber novamente ser esta uma obra lida por diferentes gerações. A Janela de Orfeu também. Após a leitura, morei na Europa a trabalho e penso que é uma obra magnífica porque a atmosfera da Alemanha aparece nos desenhos esplendidamente.


Riyoko Ikeda: Muito obrigada.


Sra Hayashi: Para a materializar uma sociedade com igualdade de gênero, gostaria de ouvir hoje suas histórias, incluindo suas obras e sua própria experiência. Indo direto ao ponto, gostaria de ouvir primeiramente sobre Berubara. Acredito que esta obra passou uma impressão muito forte para as meninas daquela época, onde ao estilo de vida de Oscar também era uma possibilidade. Era magnífico vê-la vivendo com seus ideais, e a sua imagem liderando seus subordinados, enquanto mulher nesta sociedade de homens que é o exército, justapõe-se ao quadro d’A Liberdade Guiando o Povo de Delacroix. Essa imagem de Oscar era bem vívida. Pensando bem, você escreveu Berubara na década de 1970, então faz 50 anos. O que fez você colocar uma protagonista mulher trabalhando em uma sociedade masculina quando ainda era difícil para mulheres saírem para trabalhar?


Riyoko Ikeda: Originalmente, eu vinha cultivando a ideia de querer desenhar a vida de Maria Antonieta desde a época do Ensino Médio. Porém, por meio de Oscar, penso que conseguia me expressar e dizer o que queria dizer naquela época.

Sra, Hayashi: Isso que você queria expressar é a ideia de mulheres trabalhassem em posições de igualdade e se tornarem independentes economicamente?
 
Riyoko Ikeda: Acho que as pessoas atualmente não conseguem imaginar algo assim, mas, naquela época, os mangás eram desdenhados - aliás, eram vistos como uma má influência. Nessa mesmo época em que muitos adultos proibiam suas crianças de ler mangás, embora houvesse, claro, quem lesse e me elogiasse bastante, também havia críticas de que eu estava sendo uma má influência para as crianças. Eu fui colocada na linha de frente do fogo cruzado e transmiti muito fortemente minha vontade de que tratassem o mangá como cultura. Eu, com o pessoal da edição, desenhava acreditando que algum dia o mangá ficasse para as gerações posteriores.


Além disso, naquela época, mesmo desenhando para mesma revista e tendo mais ou menos a mesma popularidade, as mulheres recebiam apenas metade do valor que eram pagos aos homens, pelos manuscritos. Quando perguntei se isso não era estranho, me falaram que eu era uma “mulher pão-duro” (okane ni kitanai onna da). Também me tive que ouvi que era normal que os homens ganharem o dobro porque mulheres eventualmente se casam e serão sustentadas por eles. Era assim naquela  época.


Sra,Hayashi: Isso é horrível, não é?


Riyoko Ikeda: Como Berubara foi muito elogiada e se tornou um fenômeno social, recebi telefonemas de homens dizendo que eu era muito audaciosa para uma mulher. Eu construí uma casa e me falaram também que era impertinente por fazer isso sendo mulher. Mas eu brigava dizendo que não era como se eu estivesse recebendo dinheiro deles. Pensando nisso agora, parece que foi um sonho.

Sra Hayashi: Isso é realmente horrível, não? Estou chocada.


Riyoko Ikeda: Há 50 anos era assim. Mesmo que você tentasse conseguir uma hipoteca para construir uma casa, recebia negativa do banco por ser mulher.


Sra Hayashi: A chamada sociedade de homens é isso. Mesmo sem saber dessas coisas, eu tinha admiração pela Oscar quando era criança.


Ryoko Ikeda: Muito obrigada. Eu tive a intenção de desenhar para meninas do Ensino Fundamental, mas fiquei surpresa por também receber o apoio de muitas mulheres que trabalhavam.


“Sra” Hayashi: Se pararmos para pensar na situação da sociedade daquela época, havia realmente muitas mulheres que queriam viver como Oscar.


Riyoko Ikeda: É verdade. Ademais, também percebi como mulheres que trabalham desejam homens compreensivos com quem podem contar, como o André.


“Sra” Hayashi: Para esta entrevista, eu perguntei às mulheres com quem trabalho na Secretaria para a Igualdade de Gêneros de quem elas mais gostavam dentre os vários homens charmosos que aparecem em Berubara. Ao levantarem a mão, o André era quem tinha, esmagadoramente, a maior popularidade.

 
Riyoko Ikeda: Naquela época, parece que todas as mulheres que estavam se esforçando no trabalho queriam um André. Eu pessoalmente estava muito ocupada para ficar refletindo sobre isso, mas penso que ao lado de uma mulher como Oscar era preciso ter um homem como André.

 
 

 


 
Notas da tradutora: A segunda parte da entrevista, a autora Riyoko Ikeda, fala sobre outro grande sucesso A Janela de Orfeu.


A "Janela de Orfeu" é um trabalho de vida
 
 
“Sra” Hayashi: A seguir, quero perguntar sobre A Janela de Orfeu. Outro dia, quando passei pela livraria cooperativa da Universidade de Tóquio, havia um canto chamado “livros recomendados por alunos da Universidade de Tóquio que gostaríamos que alunos do Ensino Fundamental 2 e Ensino Médio lessem”. Ali tinha A Janela de Orfeu enfileirado. Era o único mangá. Vai fazer 40 anos que você completou essa serialização, mas é uma obra também lida por outras gerações.



Riyoko Ikeda: Eu fico feliz. Para mim, Berubara é uma obra representativa, mas creio que A Janela de Orfeu é a obra da minha vida. Como Berubara tinha a limitação de ser direcionada para alunas do Ensino Fundamental, não é como se eu tivesse conseguido desenhar tudo que queria, além de ter sido uma serialização curta que não chegou a durar 2 anos. Como me foi permitido desenhar o quanto quisesse em A Janela de Orfeu, creio ser a obra da minha vida.



“Sra” Hayashi: Relendo-a, senti que há partes do contexto da época que têm paralelos com os acontecimentos atuais. Atualmente, se você olha para o mundo, devido às inovações tecnológicas - como a revolução de TI - e à globalização, a economia tem se desenvolvido. Porém, a diferença no valor de salários recebidos entre a população de um país está aumentando e, por isso, há países em que a política está mudando muito. A Europa do final do século XIX até a Primeira Guerra Mundial, que serve de palco para A Janela de Orfeu, também passou por uma situação em que a política sofreu um choque violento porque, devido à Segunda Revolução Industrial, a economia se desenvolveu, mas a diferença no valor dos salários dentro dos países aumentou. Há partes que parecem com a atualidade e, ao ler a obra, ela a faz pensar muitas coisas. Há alguma razão para você ter focado nessa época?



Riyoko Ikeda: Ocasionalmente, eu sentia vontade de desenhar a Revolução Russa. Também há-o fato de, quando criança, querer fazer faculdade de música e estar estudando para isso. Porém, como parei no meio do processo, quis tentar desenhar jovens vivendo nesse mundo de música. Como no período em que estava desenhando Berubara eu não tinha tanto dinheiro assim, não consegui nem fazer uma pesquisa prévia e eu nunca tinha, nem viajado de avião. Por isso, nunca tinha ido à França. Graças a Berubara, passei a conseguir ir para a Europa e ver os lugares que de fato viraram cenários em minhas histórias. É devido a isso que se tornou uma obra memorável para mim.

“Sra” Hayashi: Eu já vi algumas entrevistas na qual você fala que transformou Ratisbona em cenário da sua obra porque desceu do trem por acaso nessa cidade e gostou muito dela. Eu também fui para Ratisbona e lembro de ter ficado impressionada e pensado “ah, então é esse o tipo de lugar” ao ver a paisagem urbana antiga, que continua desde a Idade Média, e as catedrais.



Riyoko Ikeda: Quando eu viajei para lá, olharam-me com curiosidade porque só tinham pessoas que nunca viram um japonês antes. Depois disso, eu recebi uma carta do Secretário do Turismo de Ratisbona dizendo: “Embora a cidade de Ratisbona não seja promovida como destino dentro da rota de turismo, ultimamente há muitas jovens vindo do Japão e todas elas têm o mesmo livro. Quando experimentei perguntar do que se tratava, elas todas estavam passeando pela cidade carregando a sua obra. Eu agradeço profundamente”. A biblioteca da Universidade de Ratisbona tem todos os volumes d’A Janela de Orfeu. Eu fiquei muito feliz porque para mim, em certo sentido, essa foi a primeira vez em que toquei na verdadeira Europa.



“Sra” Hayashi: Eu acho que o charme de A Janela de Orfeu está em que não são apenas os protagonistas Julius, Klaus e Isaak, mas há também muitos personagens secundários excelentes cujas personalidades são proeminentes. Além disso, também me impactou mulheres desenhadas que agem fora da caixinha e são independentes, como Maria Barbara e Katharina. Naquela época, havia o movimento sufragista em lugares como a Inglaterra, mas mesmo com as mulheres querendo se tornar independentes, era na realidade um período complicado para isso. E estavam desenhadas de maneira vívida personagens como Maria Barbara que virou uma mulher de negócios e Katharina que virou chefe de enfermagem.


Riyoko Ikeda: Pergunto-me se consegui desenhar mulheres que viveram segundo seus próprios ideais. Na verdade, creio que se tornar independente e viver na condição de mulher era, em certo sentido, deveras difícil naquela época.





 
Notas da tradutora: Na terceira e ultima parte, Riyoko Ikeda fala sobre sua obra Claudine
 
 
  Claudine...! Que estava à frente de seu tempo.


“Sra” Hayashi: Eu também gosto da obra Claudine...!. Pegar um assunto que hoje em dia é chamado de transgênero é algo que me deixou admirada pela sua visão perspicaz.


Riyoko Ikeda
: Fiquei surpresa quando você disse que gostava de Claudine...!. Além dessa obra, tenho também outros one-shots que tratam de temas como o bullying de crianças. Eu desenhei há bastante tempo, então me pergunto se com todas elas eu fui prematura. Porém, mesmo dentro dos meus one-shots, Claudine...! É o de que eu mais gosto.


“Sra” Hayashi: É uma história muito dolorosa, não é? Há alguma razão para você ter voltado sua atenção para LGBTQs naquela época?

Riyoko Ikeda: O caso de Claudine estava no livro de um psicólogo francês chamado Boss. Lá estava escrito que “não dá para tratar o caso de Claudine apenas como alguém transgênero, resumindo: é alguém que nasceu com o sexo trocado”. Foi essa a deixa para mim.


“Sra” Hayashi: Ah, foi isso. Atualmente, no Japão, as condições são tais que os projetos de lei para a avanço do entendimento de pessoas LGBTQ não têm andado.

Ryoko Ikeda: É o mesmo com a possibilidade de casais usarem sobrenomes diferentes. Não resolvem isso nunca. É extremamente lamentável que apenas o Japão esteja ficando para trás.


Para a materialização da igualdade entre os gêneros 

Sra Hayashi: Atualmente, o Japão ocupa a posição 120 no ranking Diferenças Globais entre Gêneros, sendo o último colocado entre os países desenvolvidos. Desde que você desenhou Berubara, a situação que envolve as mulheres talvez tenha melhorado, mas estamos muito atrasados quando comparados a outros países. Nesta situação, o que você acha que se deve fazer? O que é importante?


Riyoko Ikeda: Eu acho que o sistema de cotas é importante. Ele é muito importante especialmente quando se trata de eleições. E acho que, ao mesmo tempo, as mulheres devem estudar apropriadamente. Quero que elas sejam capazes de debater em pé de igualdade com os homens.



Sra Hayashi: Embora agora o eleitorado ativo do Japão consista em 52% de mulheres e nós sejamos maioria, é extremamente lamentável que haja tão poucas no nosso parlamento.

Riyoko Ikeda:
Assistindo à televisão, vê-se muitas mulheres debatendo questões econômicas e sociais. Por isso gostaria de vê-las candidatando-se, não é?


Sra Hayashi: Nós conseguimos chegar a um acordo em que todos os ministérios e departamentos se comprometessem com uma regra de que não aceitariam apenas palestrantes homens nos eventos como simpósios feitos ou patrocinados pelo governo em outubro deste ano (2022). Com esses esforços se acumulando aos poucos, quero construir um ambiente em que mulheres excelentes participem das atividades.


Riyoko Ikeda: Pensando no Período Edo, acho que os homens e as mulheres estavam em condição de igualdade, seja trabalhando na agricultura ou na pesca. Não havia donas de casa. No Japão, é antiga a história de homens e mulheres trabalhando juntos e dando apoio uns aos outros. Porém, seja em comunidades agrícolas, seja em comunidades pesqueiras, não acho que as mulheres tivessem consciência de serem mulheres trabalhando. Acho que havia uma igualdade de gênero esplêndida.

Sra Hayashi; Tenho a impressão que o período do milagre econômico foi uma época em que mulheres podiam ser donas de casa em período integral e com isso fixou-se a ideia de divisão de trabalhos em que os homens trabalhavam fora e as mulheres trabalhavam com serviços domésticos.


Riyoko Ikeda: Esse arranjo é um luxo (N.T.: no sentido de poder dar-se ao luxo de fazer algo). No momento, eu estou escrevendo um roteiro para uma ópera e a história se passa na Finlândia. Eu tinha colocado um cenário em que aparecia uma dona de casa, mas uma pessoa da Finlândia pediu para eu reescrever essa parte porque parece que os finlandeses não conseguem entender o que é uma dona de casa. O fato de as mulheres trabalharem é algo óbvio, então parece que eles não entendem a ideia de alguém não trabalhar e ficar em casa. Fiquei surpresa quando pediram que eu reescrevesse para uma mulher que tivesse emprego.


Sra Hayashi: Por que não existem donas de casa na Finlândia?


Riyoko Ikeda
: Parece que sim. Fico me perguntando se ser dona de casa em período integral não é algo que está se tornando uma peculiaridade do Japão.


Sra Hayashi: Como no Japão as famílias também têm se diversificado ultimamente, acho que esse modelo de donas de casa que apareceu no período Showa e a mentalidade que o acompanha deixaram de ser realistas. É como a questão das dificuldades econômicas de famílias monoparentais que surgiu durante a pandemia de coronavírus. Para começo de conversa, se você tem 600 mil casamentos anualmente, há 200 mil divórcios. Embora as famílias e o jeito que as mulheres vivem tenham mudado, esse sistema e várias estruturas permanecem velhos e não estão atualizados conforme o Período Reiwa.



Riyoko Ikeda: Quando o homem e a mulher se casam e ficam com um único sobrenome, geralmente aquele adotado é o do homem, não é? Como eu já me divorciei, tive momentos angustiantes. É preciso passar pelas formalidades de voltar ao seu sobrenome antigo em vários lugares.

Além disso, acho estranho mudar o sobrenome porque, quando você nasce, seus pais pensam em um nome que combine com ele. Como é um nome que seus pais pensaram com todo o cuidado, você acaba querendo valorizá-lo, não? Hoje em dia, tem crescido o número de mulheres que trabalham solteiras porque a idade de casamento está bem mais tardia. Como nós vivemos em sociedade com o nosso nome como nossa identidade, acho que mudar isso traz muitas dificuldades.

Sra Hayashi: Eu concordo muito. Obrigada por me permitir ter esta conversa preciosa com você hoje.
 
Enfim, essa foi a entrevsta de Riyoko Ikeda concedeu Sra. Tomoko Hayashi diretora do Bureau de Igualdade de Gênero.

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