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quarta-feira, 6 de março de 2024

Versailles no Bara ou A Rosa de Versalhes, o mangá que inspirou a animação lady Oscar e sua luta contra os estereótipos de gêneros e preconceitos.

 

Olá, queridos amigos da Lady Oscar, Sejam Bem Vindos! 

 


Nesse mês, os italianos estão comemorando os 42 anos da primeira exibição de Lady Oscar. Como sabemos, esse foi o nome que a Rosa de Versalhes (ベルサイユのばら) recebeu para sua divulgação na Europa graças ao título do Live Action de 1979. O anime chegou à Itália em 1 de março de 1972, já havia partes 1 e 2 de um artigo especial falando sobre a chegada da animação, o amor dos italianos por Oscar. Entretanto, me pediram para falar um pouco mais sobre a protagonista Oscar, especificamente sobre como ela conseguiu romper os esteriótipos de gêneros e preconceitos e como a série de Ikeda ficou tão popular na Europa, principalmente na Itália, graças à animação de Rosa de Versalhes.

 


Pois bem, conversei com meu pai, que é fã há 42 anos de Lady Oscar. Foi graças à influência dele que conheci a série de Ikeda e hoje me dedico a escrever esse blog. Nessa conversa, ele me explicou que, no ano de 1982, a animação“Lady Oscar” foi o segundo programa mais assistido da TV e só ficou atrás da Copa do Mundo (Titulo conquistado pela Itália). Há que exalta apenas o mangá despreza a animação já vi muitas pessoas fazer tal coisa, e isso não é ser fã, pois nem ao menos tem dimensão da importância do anime para a própria série e sua autora Riyoko Ikeda, visto que se não fosse essa febre toda causada pela animação na Europa, principalmente na Itália, talvez Ikeda nem seria conhecida e amada nos países europeus. Sim, já falei e repito, quem fez a fama de Rosa de Versalhes na Europa foi justamente essa belíssima animação. O anime Lady Oscar causou uma febre inédita no país e virou uma série cult. E foi exatamente o sucesso da animação de Rosa de Versalhes que tivemos os caminhos abertos para a grande popularidade dos animes japoneses na Europa até hoje.



Para se ter uma ideia do fenômeno causado pela animação Lady Oscar na Europa, uma famosa estilista, Elisabetta Franchi, dedicou em 2016 toda uma coleção de moda inspirada na heroína de Ikeda Oscar, François de Jarjayes. Sim, todo esse sucesso e amor por Rosa de Versalhes entre os italianos deve-se graças à associação, que, aliás, tornou-se mais popular na Itália que o próprio mangá original. Mas sabemos que a obra de Ikeda é a verdadeira história, e que se não fosse a importância do mangá, não existira a a animação. Então a seguir falaremos um pouco sobre o mangá que inspirou o anime Lady Oscar e como ele rompeu preconceitos e estereótipos de gênero.



Quem conhece A Rosa de Versalhes já sabe que Oscar não é a típica heroína convencional dos antigos Shoujos mangás. Muito pelo contrário! Ikeda criou uma heroína que já fazia um papel que, na época em que se passa, sua história, era feito somente por homens. Lady Oscar, durante os tempos turbulentos da Revolução Francesa, lutou contra estereótipos e preconceitos.  Algo jamais visto em um Shoujo mangá.  E isso também é mostrado na animação, que tanto encantou as crianças na Europa nos anos 1980. Antonieta é uma figura histórica, porém Ikeda criou, de sua imaginação, a Heroína, Oscar François de Jarjayes, uma corajosa garota que acabou ganhando os Holofotes e se tornou a protagonista do mangá.



Já a animação é toda dela! A história do anime não é focada em Maria Antonieta e sim na própria Oscar. A heroína de Ikeda, é uma mulher com nome masculino, capitã da guarda real de Maria Antonieta e uma personagem que encantou as meninas que até a usavam como um espelho. É importante ressaltar que a personagem não lutou apenas em campo de batalhas, mas também contra os preconceitos e estereótipos de gêneros, em uma época onde muitas pessoas, principalmente da nobreza, preferiram um filho homem que herdaria os privilégios da família.

 




A música-tema de abertura italiana do grupo I Cavaliere del Re, traduzida, diz o seguinte: "O bom pai queria um menino, mas infelizmente você nasceu, no berço ele colocou um florete, Lady da fita azul"

No original, esse trecho é assim: " Il buon padre voleva un maschietto , ma ahime` sei nata tu, nella culla ti ha messo un fioretto,Lady dal fiocco blu"

Fioreto traduzido na íntegra, seria Flor, porém, também é assim que é conhecido o Florete, uma espécie de espada delgada e pontiaguda, usada na esgrima; ( ictiol.) peixe, também chamado de Fioreto. Para quem não entendeu, é esse o Fioreto a que o trecho da música se refere. Acredite, já vi gente traduzindo isso como "Em seu berço ele colocou uma florzinha" está incorreto em partes, pois a música refere-se à espada da esgrima. 


 

Mas a canção está corretíssima! O pai não deseja uma menina, assim como a maioria naquela época, não desejava ter uma filha e sim um herdeiro. É triste, sim, eu sei, mas é a realidade de uma antiga sociedade.Onde homens eram considerados superiores. Ou seja, se você fosse um homem, seria ao tão esperado herdeiro, mas se fosse uma mulher, era inferior, seria forçada a usar espartilhos, saias longas e casar-se para produzir herdeiros.


 Mas, por que Ikeda fez de Oscar uma mulher que fazia o papel de um homem? Porque, infelizmente, na época em que era serializada Rosa de Versalhes, também existia uma enorme desigualdade de gênero na sociedade japonesa. Mulher não era nada a não ser uma dona de casa em tempo integral, sua única obrigação era casar-se, produzir filhos e cuidar da casa e das crianças. A maioria das mulheres não podia trabalhar fora de suas casas, isso era visto como função exclusiva dos homens. Mulheres que precisavam trabalhar fora tinham de pedir permissão aos maridos e ganhavam muito menos que os homens. Ikeda mesma contou em uma entrevista que lhe pagavam somente a metade do que era pago há um mangá-ka homem que trabalhava para a mesma revista.Quando ela resolveu perguntar o motivo, teve de ouvir uma resposta machista, algo como: É natural que homens ganhem mais já que sustentam a casa. Em breve, você se casará e será sustentada por um homem.

 



Se pararmos para analisar, a desigualdade de gênero naquela época no Japão não era muito diferente do que vemos em Rosa de Versalhes, portanto Ikeda fez de Oscar uma mulher militar, forte e decidida, capaz de escolher seu destino e fazer um papel antes feito somente por um homem. Ou seja, Oscar falava por ela, já que Ikeda nunca foi a favor da desigualdade de gênero. A autora de Rosa de Versalhes chegou a dar uma entrevista para o Gabinete de Igualdade de Gênero do Japão, na época foi extremamente difícil traduzir, mas consegui! Aliás, fui a primeira a fazer essa difícil tradução e disponibilizei aqui no blog. Para quem quiser ler, clique aqui. Nessa entrevista, Ikeda fala um pouco sobre questões de gênero, e vale muito a pena ser lida. Em breve estarei revisando essa tradução com meu professor de japonês e prometo trazer a versão atualizada com uma tradução de maior qualidade.

Continuando, foi exatamente por Oscar representar essa luta contra preconceitos e esteriótipos de gênero que a personagem acabou ganhando o coração das leitoras de Rosa de Versalhes, chegando apagar a própria Maria Antonieta e tornando-se não apernas a protagonista mas também uma das personagens mais amadas entre as meninas japonesas até hoje. Oscar representa a força das mulheres e o poder de tomar as próprias decisões. Em um documentário exibido pela NHK em 2022, foi dito que as Meninas desejavam ser exatamente como ela, ou seja, a personagem de Ikeda foi e até hoje é uma grande inspiração para nós mulheres em geral.




A menina, indesejada pelo pai, criada como um homem, que rompeu esteriótipos de gênero, cheia de força e coragem, e dotada de alma nobre, bondosa com grande sensibilidade, foi que fez de Rosa de Versalhes um fenômeno. Outro personagem que rompe estereótipos de gênero na história de Ikeda é André Grandier, mas por quê? Simples, André é o oposto dos heróis de mangás e animes. Isso porque André não representa um homem forte, musculoso, assim como vemos o Gaston de A Bela e a Fera, capaz de resolver tudo na pancada. Muito pelo contrário, André é um homem sensível, humilde, apaixonado e, ao mesmo tempo, o típico protetor dos Shoujo mangá. Não que Oscar precise ser protegida, mas André está lá por ela somente por ela. Ele não é tão habilidoso na arte da esgrima como Oscar, nem tem tanta força como ela, mas Ikeda fez tudo proposital, ela queria mostrar que uma mulher pode, sim, ser mais forte que um homem.  André não é fraco, muito pelo contrário, ele é um personagem que passa por muito durante a série, mas que se mantém ao lado da mulher que ama. Mas digo que, para mim, ele também rompeu os preconceitos e esteriótipos de gênero, por ser uma figura masculina sensível, capaz de chorar e sofrer calado. O lado sensível de André conquistou o coração das leitoras que desejavam encontrar um marido exatamente como André.




Rosa de Versalhes, em si, é uma história que trata da questão de gênero antes do tempo. Um macro do Shoujo mangá, uma obra atemporal e uma das séries japonesas mais amadas de todos os tempos.  Sobre a animação, sua importância é indiscutível para o sucesso da série na Europa, sem contar que é uma adaptação incrível com traços belíssimos e merece ser tão valorizada quanto o próprio mangá.





Espero que tenham gostado! Até o próximo artigo.



ady Oscar diz... Obrigada por sua visita! Volte sempre que quiser.

 


 



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